Frederico II, imperador da Alemanha no século XIII, gostava de realizar experimentos, digamos assim, meio bizarros. Num deles, quis descobrir que tipo de idioma as crianças falariam caso crescessem sem jamais ouvir uma palavra sequer: seria a língua de seus pais ou hebreu ou grego, o latim ou árabe? Ordenou então que algumas “mães postiças” amamentassem e banhassem um grupo de bebês, porém sem falar com eles nem os tocar. O que aconteceu? Segundo o historiador franciscano Sambilene de Adama, todas as crianças morreram, pois “não conseguiam viver sem os carinhosos afagos, sem os alegres semblantes e as amorosas palavras das mães postiças”. Algo tão simples: toque. Quem poderia imaginar que o mais básico dos atos humanos poderia estimular o sistema imunológico, melhorar o funcionamento mental e, até, aliviar a hiperatividade ou o déficit de atenção de crianças agitadas? Sambilene foi um dos primeiros a registrar os efeitos da falta de toque no organismo humano.
Recentemente, estudos feitos pelos pediatras Henry Chapin e René Spitz, dos Estados Unidos, mostraram que as crianças que viviam em instituições com alimentação e higiene adequadas morreram pela carência de toque. Essas crianças receberam o que se acreditava ser essencial para sua sobrevivência: nutrição e um ambiente higiênico. Mesmo com as necessidades físicas atendidas, os médicos concluíram que o fator essencial ausente era o toque amoroso.
Nos últimos dez anos, no Instituto de Pesquisa do Toque, na Universidade de Miami, a psicóloga Tiffany Field e seus colegas têm estudado os efeitos do toque. Suas pesquisas mostram que um aumento de toque – especialmente em crianças – pode amenizar resfriados, diarreia, asma, dermatite, doença cardiovascular, dor crônica, insônia e estresse.
O toque também melhora o funcionamento mental: um estudo feito pela pesquisadora Sybill Hart, do mesmo instituto, revelou que as crianças da pré-escola – especialmente aquelas mais “temperamentais” que recebiam massagem de 15 minutos por dia – tinham melhores resultados em testes de desempenho cognitivo e mostraram um aumento da atenção. Isso pode ocorrer porque o toque reduz os níveis do hormônio do estresse, o cortisol.
Uma vez que o excesso de cortisol inibe o funcionamento do hipocampo, o centro da memória e aprendizado no cérebro, a redução da secreção desse hormônio pode levar a uma melhora na capacidade mental.
Grudados em nossas telas de computador ou de TV, dependemos tanto do visual que perdemos contato com nossa sensação tátil. O antropólogo britânico Ashley Montagu, em seu clássico livro Tocar, lamenta a “dolorosa privação de experiência sensorial que sofremos em nosso mundo tecnológico. A impessoalidade da vida no mundo ocidental chegou a tal ponto que acabamos produzindo uma raça de intocáveis.”.
Com tanta agitação e distúrbios mentais a nossa volta, será que não é chegada a hora de resgatar uma das mais básicas expressões da afeição humana – o toque? Como Montagu diz: “onde o toque começa, ali o amor e a humanidade também começam.”
Por isso, assegure-se de que você está a cada dia dando a seus filhos o conforto do carinho tátil: aprenda a massagem para bebês, esfregue as costas de seu filho e faça cafuné em seu cabelo. Ensine a suas crianças a automassagem e incentive a introdução do toque na educação infantil.
(Adaptado de artigo publicado por Sandra Andrews - Psicóloga e monja iogue)
(fonte Revista Época no. 445 – nov./2006).
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