O processo de socialização tem se dado por meio de uma educação, no mínimo, equivocada, impondo-nos um "padrão", "padrão" esse que serve para o mundo.
Para os pais, é mais fácil educar um filho obediente, submisso, que não questione regras e leis estabelecidas. Quanto mais a criança se adequar a esses padrões, melhor filho(a) será considerado(a). Deixa que o mercado cobre liderança, carisma, arrojo...
Para os professores, o melhor aluno é aquele que não `atrapalha` a aula, mesmo que ela esteja enfadonha e não tenha qualidade. A nota é recompensa dada muito mais pelo comportamento ou `simpatia` do que pela capacidade ou aprendizado. Infelizmente, não faz parte desse aprendizado a qualidade de vida, o "relacionar-se bem", com respeito a si e aos outros, o cooperar, o amar, como se tudo isso fosse menos importante em nossa trajetória.
Para o governo, quanto mais culpada e insegura for a população, mais facilmente aceitará o desemprego, o salário mínimo, o achatamento de seu salário, impostos abusivos, a corrupção, etc.
Para a religião, quanto mais em pecado o cidadão sentir-se, mais submisso ficará às regras muitas vezes questionáveis, criadas pelos homens e não por Deus.
E quando o homem se dá conta, está seguindo modelos morais, sociais e religiosos no automático, sem questionar se gosta, quer ou sente afinidade com todos os “tenho que” à que se obriga a fazer, passando a viver só em função de papéis: do filho(a), marido (esposa), pai (mãe), profissional... Junto com o auto abandono, vem o “pacote” de insegurança, tristeza profunda, depressão, pânico.
Como será então nesse tipo de sociedade “formatada” já nascer diferente?
Nascer com TDAH significa ter uma noção de tempo diferente dos demais: ora rápido, impaciente, quer tudo “para ontem”; ora letárgico, preguiçoso. Quem tem TDAH é curioso, quer saber e falar tudo (se possível dizendo a última palavra), quer fazer tudo (de preferência “do seu jeito", que sem dúvida é o melhor), faz várias coisas ao mesmo tempo (ou tenta fazer), quer comprar tudo, quer trabalhar muito,... quer... quer... quer... e de repente se esgota com esse ritmo alucinante em que sua cabeça funciona, com a ansiedade sempre presente. Se afoga na própria desorganização interior e exterior. Se estressa, se larga, se deprime e, com muita facilidade, vai da onipotência para a impotência. É a famosa oscilação de humor.
Muitas vezes se isola, como se lá estivesse protegido da incompreensão do mundo. Sua autoestima acaba, agora além da cobrança do mundo vem a auto condenação, não se sente mais confiável. Como o alívio para a culpa é o castigo, é o que a pessoa passa a atrair para sua vida. Aí sente-se “azarado”, vitimizado, sem ciência que é responsável por tudo que lhe acontece. Se não descobre o que tem e não se trata, pode “desistir”, sentindo-se impotente até de simplesmente viver.
O papel fundamental da terapia para TDAH é justamente esse: devolver ao ser humano o bem que lhe é mais precioso, o resgate de sua individualidade, essência, sua alma, equilíbrio, sabendo controlar seus impulsos, aprendendo a colocar-se no lugar do outro, respeitando e sendo respeitado. Com isso, o homem pode sair da grande cilada que faz com ele mesmo: agradar ao “mundo” para que o mundo o reconheça e o ame; uma vez que ele se abandona, que não confia em si, passa a vida esperando o reconhecimento alheio. Como o processo é inverso, (só é amado e respeitado quem se ama e se respeita), a espera é infrutífera e vitimizante. Muitos passam a vida inteira responsabilizando e/ou culpando o outro pela sua infelicidade, pela sua carência, sem dar-se a oportunidade de ser o autor da sua vida.
A psicoterapia hoje, atua mais como um processo de despertar, podendo devolver ao ser humano a capacidade de cuidar-se, de investir em si, desenvolvendo sua maturidade emocional para que possa assumir a responsabilidade pela sua própria vida. O resultado é um ser mais completo, mais maduro, confiante em si, em função da maior liberdade e permissão para ser ele mesmo.
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